Todos os dias vemos as consequências dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais espelhadas nas múltiplas realidades organizacionais, com diferentes níveis de impacto nas vidas das suas vítimas. Estas ocorrências nefastas e indesejáveis traduzem-se numa fatura muito elevada a pagar pelos trabalhadores, pelos colegas, pelas organizações, pelas seguradoras, pelas famílias das vítimas e, em última análise, pela sociedade de forma global. Sendo os acidentes de trabalho ocorrências expetáveis e prováveis de acontecer em contexto organizacional, é fundamental compreender a sua dimensão e extensão do fenómeno em análise. Para que tal seja possível, temos de investigar e analisar as múltiplas causas, internas e externas ao individuo em contexto organizacional, que convergem num determinado período no tempo e que se precipitam numa dinâmica muito especifica que culmina no acidente.
Estatísticas Internacionais e Nacionais
Neste sentido, e possível corroborar com base nas estatísticas internacionais e nacionais que os acidentes de trabalho continuam a ser uma constante no mercado de trabalho português. Os dados oficiais publicados pela Eurostat relativos a 2020 posicionam Portugal no sexto lugar do ranking face aos restantes Estados-Membros com uma taxa de 3,2%. Os países europeus que maiores taxas de acidentes no trabalho registam são a Finlândia (9,6%), a Suécia (5,O%) e França (4,6), concomitantemente os países que menores taxas de acidentes assinalam são a Bulgária (0,7%), a Hungria (0,7%) e a Lituânia (O,5%), sendo que a média da União Europeia se situa nos 2,4%. Estes dados publicados pela Eurostat refletem que Portugal regista um recuo face aos anos anteriores (e.g: 2013 com 4%), mas acautela que pode ser explicado pela interrupção da atividade económica imposta pela Pandemia do COVID-19. As estatísticas nacionais disponibilizadas pela Autoridade das Condições de Trabalho (ACT) relativas ao mesmo período de tempo refletem a mesma tendência de excesso de ocorrências reportadas oficialmente à ACT com 121 acidentes de trabalho mortais e 340 acidentes de trabalho graves.
Estes números exigem uma tomada de posição face às políticas de segurança adotadas a nível nacional em matéria de prevenção, através do controlo do desempenho das empresas e organizações em Portugal. Esta análise à atitude e ao desempenho das múltiplas empresas e organizações públicas e privadas deve conduzir a um maior investimento na procura das causas que estão na origem dos acidentes de trabalho. Tal atitude resultaria numa estratégia de investimento em segurança a curto prazo, através da promoção do diálogo estreito entre os vários intervenientes em contexto organizacional, nomeadamente os órgãos de gestão, as chefias intermédias, os profissionais de segurança, os profissionais de recursos humanos, os trabalhadores, para que se promovam os devidos alinhamentos e, consequentemente, o desenvolvimento de uma política sustentável de segurança no trabalho.
Em suma, os acidentes de trabalho, apesar de constituírem um tema amplamente explorado em contexto real de trabalho e académico, continuam a exigir, sem dúvida, mais reflexão e debate porque é possível encontrar pistas através de novas abordagens mais equilibradas e criativas que conduzam a uma desaceleração da “cultura da mutilação laboral dos trabalhadores”.